Igreja de Gondifelos

01-05-2020

A Igreja Paroquial de São Félix e Santa Marinha de Gondifelos

    Na freguesia de Gondifelos, atual união de freguesias de Gondifelos, Cavalões e Outiz, ergue-se a Igreja de São Félix e Santa Marinha que, está edificada junto à estrada nacional número 206, que liga Vila Nova de Famalicão à Póvoa de Varzim. Situada na Avenida das Oliveiras, rua que une as principais avenidas desta paróquia: a avenida de São Félix e a avenida de Santa Marinha, este imóvel paroquial está orientado no sentido Nascente-Poente. 

    Sendo um templo de grande volumetria e feições retangulares é possuidor de uma fachada de linhas sóbrias. Sobre a porta principal, encontra-se um grande janelão, ladeado por dois pequenos óculos, um de cada lado. Acima do mesmo, uma pequena empena que alberga as esculturas dos mártires, São Félix e Santa Marinha. E agora pergunta-se: qual a razão para que esta paróquia tenha dois patronos e não só um, como costume nas paróquias portuguesas? Dando resposta à pergunta, atesta-se que esta atual freguesia resultou da anexação das paróquias de São Félix de Gondifelos e de Santa Marinha de Vicente, cuja memória confirma que a sua igreja paroquial se erguia no agora denominado lugar de Igreja Velha, bem junto ao lugar de Penices, onde se encontra um Castro que já foi mencionado neste mesmo trabalho. Esta anexação, ao que se crê, aconteceu nos primórdios do século XVII. 

    Atente-se, em baixo, a emblemática torre sineira que, adossada parede lateral esquerda, está dividida em três lanços.

    tendo o primeiro um vão de passagem e, mais acima, um óculo em cadernas. No segundo está o mostrador de um relógio de comando eletrónico, mas, já funcionou mecanicamente. E, no último lanço, encontram-se os tradicionais campanários para a colocação dos sinos (...) finalmente, é rematada por um coruchéu em forma piramidal, rodeado na parte inferior por uma balaustrada e, nos ângulos desta, por quatro pináculos boleados na parte superior (Vieira, 2006, p. 45).

Um Pormenor da Torre Sineira de Gondifelos
Um Pormenor da Torre Sineira de Gondifelos

    Portas adentro, destacam-se os sete retábulos da igreja: o altar-mor, os laterais do arco cruzeiro, outro par nas laterais da nave e os outros dois, inseridos em capelas colaterais. Ao longo do corpo do templo, reaproveitou-se o espaço dos antigos confessionários que deram lugar a seis altares dedicados a Santa Luzia, Menino Jesus de Praga, Santa Marta, Nossa Senhora Menina, Virgem Dolorosa d'El Escorial e São Francisco Xavier.

    O altar-mor recobre a totalidade da parede tornando toda a estrutura num espetacular plano vertical banhado plácido branco-pérola, sustentado por quatro marmóreas colunas de tom rosado, delicadamente adornado por belíssimas incrustações em talha dourada, resguardando no seu âmago, um gigantesco Crucifixo, opulento de realismos e pungente de dolorosa autenticidade, ladeado pelas imagens dos padroeiros (Mesquita, 2007, p. 176).

O Altar-Mor da Igreja de Gondifelos
O Altar-Mor da Igreja de Gondifelos

    Refira-se que, quando a vista a este templo, constatou-se que o mesmo não comparecia no seu sítio habitual, dada a realização do Sagrado Lauperene paroquial. A imagem de São Félix, venerada do lado esquerdo do altar, data do século XVIII, assim como a imagem de Santa Marinha, venerada no lado oposto e esculpida no mesmo período. Nas paredes desta capela-mor, veneram-se, do lado direito, Santo António de Lisboa e o Bispo e Mártir Santo Ovídio, fronteiriço com o secundário padroeiro de Portugal. 

    Depois do arco cruzeiro, erguem-se os altares de Nossa Senhora do Rosário e de São José das Botas, cujas imagens, à semelhança dos padroeiros, datam do século XVII. Abaixo dos mesmos, foram implantados os altares de Nossa Senhora de Fátima, à esquerda e dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, à direita. Refira-se que, no altar da Senhora de Fátima, figuram lateralmente as figuras de São Bento e do Mártir São Sebastião. (Aquando a visita a este igreja paroquial, o mencionado altar da Virgem de Fátima encontrava-se em restauro, pelo que a imagem da Senhora foi transportada para a frente do altar-mor, ao passo que as figurações dos santos Bento e Sebastião foram remetidas para o altar da Senhora das Angústias.

A Panorâmica Geral da Igreja de Gondifelos
A Panorâmica Geral da Igreja de Gondifelos

    Resguardado numa recôndita concavidade, o altar do Senhor dos Passos. É outro dos preciosismos de descerra a admiração do mais exigente esteta. Todo ele entalhado a outro sobre um já quase impercetível fundo branco, somado à impressionante obra de cinzeladora em relevo, perfaz uma única e incompreensível mancha de áureo luzimento sobre celeste (Mesquita, 2007, p. 176).  

    Ladeando a imagem do Senhor dos Passos, erguem-se dois retábulos dos dominicanos São Domingos de Gusmão e São Gonçalo de Amarante, sendo seguidos, à direita por uma imagem de São Miguel-o-Anjo e de Nossa Senhora da Conceição, à esquerda. Também estas representações datam do século XVIII. Fronteiriço a este altar, também numa capela colateral, venera-se Nossa Senhora das Angústias, ladeada pelo Divino Espírito Santo e por São Jorge. Numas peanhas laterais, encontram-se Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora das Dores. 

O Altar do Senhor dos Passos
O Altar do Senhor dos Passos
O Altar da Senhora das Angústias
O Altar da Senhora das Angústias

    Por fim, destaca-se ainda o teto da nave que alberga uma pintura que representa São Félix e Santa Marinha em contemplação celeste, à medida que são galardoados com uma coroa de flores, trazida dos Céus por Anjos. Refira-se que esta igreja é a sede das grandes festas em honra de São Sebastião, cuja comissão de festas é composta, essencialmente, pelos jovens da paróquia. Festeja-se este Mártir, anualmente, no dia 20 de janeiro e domingo mais próximo. Nos anos bissextos, o mesmo templo celebra o Divino Espírito Santo, no domingo de Pentecostes.

A Imagem de São Félix

    Talhado no século XVIII, a imagem do Mártir São Félix representa-se de pé e em posição frontal. Encontra-se levemente em contraposto e apoia o peso do seu corpo na sua perna esquerda que se aduz recuada. Reproduzido como um homem maduro e de longas barbas castanhas, assim como o seu cabelo, este Mártir de rosto arredondado mostra uma testa alta, mostrando assim calvície. Os seus olhos, grandes e amendoados, são castanhos e denunciam um certo recolhimento, bem como piedade e atenção para com os fiéis que o veneram. O seu nariz é comprido e a boca extremamente proporcional ao resto da face contudo, apresenta-se entreaberta, lembrando o sacrifício, a dor, o martírio.

A Imagem de São Félix
A Imagem de São Félix

    Este Santo veste uma túnica azul-turquesa, cingida por um impercetível bordão e é rematada por um acabamento dourado. Sobre os seus ombros, repousa um manto rosado exteriormente e amarelo interiormente, o que confere uma rara beleza a esta imagem. Há semelhança da túnica que alberga, também o manto é delimitado por um acabamento dourado. De referir que a mencionada capa se desenvolve em movimento, contornando o lado esquerdo do corpo do Santo, tapando-lhe o joelho sinistro. O mesmo é cingido no braço direito do Mártir que, estendido para a frente, suporta um livro aberto, a Bíblia Sagrada. Alude-se ainda que o braço esquerdo se encontra afastado do corpo e ostenta na sua mão a famosa Palma do Martírio que identifica milhares de mártires, lembrando, de igual modo, o martírio da flagelação do seu corpo, bem como a dilaceração dos seus ossos, culminando, ao que se crê, com a sua decapitação, a 01 de agosto de 304, na cidade de Gerona. Apoiada sobre uma base octogonal castanha que detém um letreiro negro com a referência "S. FELIX", a imagem do Mártir apresenta-se descalça.

A Imagem de Santa Marinha

    Paralelamente, e talhada na mesma altura que a imagem do padroeiro de Gondifelos (século XVIII), a representação de Santa Marinha apresenta-se em posição frontal e em leve contraposto, exercendo, à semelhança de São Félix, o peso do corpo sobre a sua perna esquerda recuada. Está ricamente esculpida como uma jovem donzela e o seu rosto apresenta-se inclinado para o seu lado esquerdo. Dona de um olhar venerável e em contemplação divina, esta imagem alberga um rosto fino, de nariz delicado e lábios pequenos e entreabertos. Por mais que o seu olhar nos remeta aos sacrifícios que padeceu em vida, os mesmos revelam a esperança e a ânsia do querer morrer por amor a Cristo, como lhe aconteceu a 18 de julho de 135. Os seus cabelos negros descem em cachos até ao nível dos ombros e estão apanhados abaixo da nuca. Está coroada por um resplendor de liga metálica.

A Imagem de Santa Marinha
A Imagem de Santa Marinha

    De indumentária vistosa, esta imagem enverga uma túnica verde-escura, decorada com motivos vegetalistas de cor dourada. Veste ainda uma couraça de tons acinzentados, que lembram este objeto metálico de proteção. Também este é decorado com motivos acastanhados. O baixo-ventre e as pernas são tapados por uma saia azulada de motivos dourados, pregada sobre o joelho direito que modo a que se veja a túnica verde já mencionada acima. Uma capa vermelha, que lembra a cor do seu sangue, está amarrada junto do seu peito e desce pelo seu ombro esquerdo, tapando-lhe as costas e descendo até à base, vindo ser cingido num laço, junto do seu abdómen, pelo lado direito. A túnica de mangas largas recuam até ao cotovelo, fazendo com que os braços e mãos desta Mártir se apresentem desnudos e voltados para a frente. A mão esquerda segura a Sagrada Escritura, esculpida num livro aberto, ao passo que, a mão destra segura verticalmente a honrosa Palma do Martírio. É então momento de referir que esta Virgem e Mártir, segundo uma lenda muito antiga, nasceu na cidade de Braga e faz parte de um grupo de nove irmãs gémeas (Quitéria, Genebra, Vitória, Eufémia, Marinha, Marciana, Germana, Basília e Liberata). Com medo de represálias, por parte de um marido que se encontrava ausente aquando do nascimento das suas filhas, Cálica Lúcia, sua mãe, mandou afogá-las no rio Este que banha a cidade. Sita, a criada da família e cristã em segredo, entregou-as ao Bispo Santo Ovídio, que conferiu a sua educação a famílias cristãs. 

    De acordo com a mesma lenda, no reinado do Imperador Adriano, uma enorme perseguição aos cristãos rebentou no Império. Lúcio Caio, pai das jovens, ficou encarregue de executar as leis perseguidoras nos seus domínios senhoriais e, como tal, mandou chamar as famosas irmãs gémeas que prontamente se declararam como cristãs e como suas filhas. Espantado, Lúcio mandou chamar a sua esposa e a sua criada, que não puderam negar a veracidade dos factos. Contentíssimo, Lúcio tomou-as como filhas, mas como prova de amor, teriam de abdicar de um vida dedicada a Cristo, passando a louvar os deuses romanos. Dada a firmeza das jovens em não abandonar a fé verdadeira, todas elas foram presas nas masmorras do palácio, porém, pela calada da noite, foram libertas por um anjo. Encaminhadas pelo Espírito Santo, cada uma rumou a uma cidade diferente. Conta-se que Santa Marinha foi encaminhada para a Galiza, onde foi martirizada. Depois de lhe dilasserarem as carnes e descarná-la com pentes de ferro, queimaram-lhe as costas e os peitos com ferros em brasa, lançando-a num tanque de água, do qual saiu milagrosamente ilesa. Ainda tentaram assá-la numa fornalha ardente, mas como novamente saiu ilesa, degolaram-na numa cidade perto de Orense, no dia 18 de julho de 135, aquando a mesma tinha apenas 15 anos. 

    Voltando à iconografia desta Santa, refira-se que a sua imagem mostra, timidamente, um sapato escuro, do lado direito e que assenta sobre uma base retangular acastanhada que confere, a branco, a identificação de "Sta. Marinha".

Bibliografia Consultada: 

  • Mesquita, T. (2007). Memórias de Famalicão. Santa Maria da Feira: Rainho & Neves.
  • Vieira, A. M. (2006). Freguesia e Paróquia de Gondifelos in Boletim Cultural III - n.º2. Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
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