Igreja de Outiz
A Igreja Paroquial de São Tiago de Outiz
A primeira morada de Deus feito Homem não era um local de imponência urbana, não existia rasgadas artérias que conduzissem esses três visionários Reis Magos à choupana de Belém (...). Também, em Outiz, a Casa de Deus encontra-se num local recatado, longe das imponentes avenidas da freguesia, aconchegada entre duas frondosas e formosas quintas, por uma pequenina rua se acede a esta Igreja que chama e convida à oração convicta e sincera (Mesquita, 2007, p. 205).
Já antes do ano de 1085 se fala em São Tiago de Outiz, mas para este templo que se pretende estudar, não é consensual a sua data de edificação; contudo, fontes orais apontam-na para os finais do século XVIII. De fachada tardo-maneirista ou mesmo barroca classicista, este templo dedicado ao Apóstolo São Tiago Maior, é o palco das festas em honra do mesmo. Realizam-se, anualmente no último domingo de julho, sendo o grande dia 25 do mencionado mês, festa litúrgica do Santo, o dia da missa solene em honra do padroeiro. Esta igreja, de pequenas dimensões, tem a sua fachada voltada a poente, o que faz com que a sua cabeceira esteja voltada para nascente, obedecendo assim à tradicional orientação dos templos cristãos.

Edificada em granito, a sua frontaria é ladeada por pilastras toscanas, sobrepujadas por pináculos piramidais coroados com esferas. A cornija da frontaria em papo de rola está rematada horizontalmente, o que faz crer ao observador que o lugar onde, atualmente, está erguida a Cruz, certamente estaria um campanário com o seu sino. De referir que o janelão que ocupa o topo da fachada foi, possivelmente, aberto nas obras dos séculos XIX ou XX e que a porta principal deste templo está emoldurada por um frontão triangular classicista. Construída em 1906, graças à benemerência do Comendador Bernardino da Costa e Sá, a torre sineira desta igreja encontra-se na parte retaguarda do templo, o que provoca ao visitante um certo interesse, uma vez que esta característica é original, não obedecendo às leis gerais da arquitetura sacra portuguesa que, geralmente, edifica as torres sineiras adossadas à parte frontal do edifício.

Interiormente, é notável e interessante o desnível que existe entre a capela-mor e a nave única da igreja. Porém, o observador mais atento consegue perceber o mencionado desnível na parte exterior do edifício. Este templo foi internamente restaurado em 2012, no entanto, estimou-se resguardar toda a antiga decoração do templo. A capela-mor é possuidora de um altar do século XIX que foi construído em estilo neoclássico e pintado essencialmente a branco com apontamentos dourados. Divido em sotobanco, corpo e ático, este altar é dedicado ao patrono São Tiago. No sotobanco encontram-se as portas de acesso à tribuna, uma à direita e outra à esquerda; no centro, um frontal em forma de bacia e, sobre o mesmo, o sacrário. Já no corpo do altar, destaca-se a tribuna, tapada por um painel de louvor ao Santíssimo Sacramento, numa tela pintada onde dois anjos adoram o Corpo e Sangue de Cristo, com as pombas alusivas ao Espírito Santo e ao alto um coro de anjo parece louvar a Deus (Almeida, 2013, p. 120).

De referir que sobre o Arco Central encontram-se os símbolos alusivos ao patrono São Tiago: o bordão de peregrino, a espada e o escudo que, segundo a lenda, o Apóstolo usou na Batalha de Clavijo. Lateralmente, encontram-se duas mísulas que albergam as imagens de São Tiago, à esquerda, e da Senhora da Piedade, à direita. Estas duas peças artísticas são barrocas e têm sido alvo de constantes restauros, nem sempre bem conseguidos. Nas paredes desta mesma capela-mor encontram-se quatro pequenas peanhas, duas de cada lado que albergam as recentes imagens de São João de Brito e São José, à esquerda e de Santa Maria Goretti e Santa Teresinha do Menino Jesus, à direita.
Depois do Arco Triunfal em granito que é
suportado por duas pilastras de ordem toscana, como que a ladear o mesmo,
encontra-se dois retábulos de estilo barroco nacional, com grande profusão decorativa de colunas torsas, meninos, anjos, parras, cachos de uvas, pombas, Fénix e ramagens, tendo nos topos de cada altar uns meninos às cavalitas das Fénix, levando nas mãos direitas a Santa Cruz (Almeida, 2013, p. 121). O altar
da direita é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e é possuidor de uma imagem
dos séculos XIX-XX, ao passo que o da esquerda é dedicado ao Coração Imaculado
de Maria e alberga uma imagem sua de feições tipicamente barrocas.


Na nave da igreja, destaca-se o altar de Nossa
Senhora de Fátima, implantado na outrora porta lateral sul e, mesmo em frente,
a enorme peanha do monumental Nosso Senhor da Saúde, imagem de Cristo
Crucificado. Ao longo de toda a nave, vão surgindo pequenas peanhas que acolhem
as imagens de São Judas Tadeu, Menino Jesus, São Bento, Santo António de Lisboa e as mais
antigas e importantes, datadas do século XVIII, as imagens da Senhora do Carmo
e do Mártir São Sebastião.

Ao fundo da igreja está colocado o mais antigo vestígio artístico, vindo da Idade Média (ou já do período Manuelino), a pia batismal de granito, de pé canelado e bacia decorada com círculos e cruzes dentro destes, separadas por cordas, foi-lhe acrescentado o pé com um pequeno tronco granítico sem qualquer interesse artístico (melhor não o fosse) (Almeida, 2013, p. 122).
Bibliografia Consultada:
- Almeida, L. G. C. (2013). Santiago de Outiz e sua Anexa São Miguel de Gemunde - Apontamentos Monográficos. Vila Nova de Famalicão: Junta de Freguesia de Outiz.
- Mesquita, T. (2007). Memórias de Famalicão. Santa Maria da Feira: Rainho & Neves.