Igreja de Outiz

15-05-2020

A Igreja Paroquial de São Tiago de Outiz

    A primeira morada de Deus feito Homem não era um local de imponência urbana, não existia rasgadas artérias que conduzissem esses três visionários Reis Magos à choupana de Belém (...). Também, em Outiz, a Casa de Deus encontra-se num local recatado, longe das imponentes avenidas da freguesia, aconchegada entre duas frondosas e formosas quintas, por uma pequenina rua se acede a esta Igreja que chama e convida à oração convicta e sincera (Mesquita, 2007, p. 205).

    Já antes do ano de 1085 se fala em São Tiago de Outiz, mas para este templo que se pretende estudar, não é consensual a sua data de edificação; contudo, fontes orais apontam-na para os finais do século XVIII. De fachada tardo-maneirista ou mesmo barroca classicista, este templo dedicado ao Apóstolo São Tiago Maior, é o palco das festas em honra do mesmo. Realizam-se, anualmente no último domingo de julho, sendo o grande dia 25 do mencionado mês, festa litúrgica do Santo, o dia da missa solene em honra do padroeiro. Esta igreja, de pequenas dimensões, tem a sua fachada voltada a poente, o que faz com que a sua cabeceira esteja voltada para nascente, obedecendo assim à tradicional orientação dos templos cristãos. 

A Fachada da Igreja Paroquial de Outiz
A Fachada da Igreja Paroquial de Outiz

    Edificada em granito, a sua frontaria é ladeada por pilastras toscanas, sobrepujadas por pináculos piramidais coroados com esferas. A cornija da frontaria em papo de rola está rematada horizontalmente, o que faz crer ao observador que o lugar onde, atualmente, está erguida a Cruz, certamente estaria um campanário com o seu sino. De referir que o janelão que ocupa o topo da fachada foi, possivelmente, aberto nas obras dos séculos XIX ou XX e que a porta principal deste templo está emoldurada por um frontão triangular classicista. Construída em 1906, graças à benemerência do Comendador Bernardino da Costa e Sá, a torre sineira desta igreja encontra-se na parte retaguarda do templo, o que provoca ao visitante um certo interesse, uma vez que esta característica é original, não obedecendo às leis gerais da arquitetura sacra portuguesa que, geralmente, edifica as torres sineiras adossadas à parte frontal do edifício.

Um Pormenor da Imagem do Padroeiro São Tiago
Um Pormenor da Imagem do Padroeiro São Tiago

   Interiormente, é notável e interessante o desnível que existe entre a capela-mor e a nave única da igreja. Porém, o observador mais atento consegue perceber o mencionado desnível na parte exterior do edifício. Este templo foi internamente restaurado em 2012, no entanto, estimou-se resguardar toda a antiga decoração do templo. A capela-mor é possuidora de um altar do século XIX que foi construído em estilo neoclássico e pintado essencialmente a branco com apontamentos dourados. Divido em sotobanco, corpo e ático, este altar é dedicado ao patrono São Tiago. No sotobanco encontram-se as portas de acesso à tribuna, uma à direita e outra à esquerda; no centro, um frontal em forma de bacia e, sobre o mesmo, o sacrário. Já no corpo do altar, destaca-se a tribuna, tapada por um painel de louvor ao Santíssimo Sacramento, numa tela pintada onde dois anjos adoram o Corpo e Sangue de Cristo, com as pombas alusivas ao Espírito Santo e ao alto um coro de anjo parece louvar a Deus (Almeida, 2013, p. 120).

O Altar-Mor de São Tiago de Outiz
O Altar-Mor de São Tiago de Outiz

    De referir que sobre o Arco Central encontram-se os símbolos alusivos ao patrono São Tiago: o bordão de peregrino, a espada e o escudo que, segundo a lenda, o Apóstolo usou na Batalha de Clavijo. Lateralmente, encontram-se duas mísulas que albergam as imagens de São Tiago, à esquerda, e da Senhora da Piedade, à direita. Estas duas peças artísticas são barrocas e têm sido alvo de constantes restauros, nem sempre bem conseguidos. Nas paredes desta mesma capela-mor encontram-se quatro pequenas peanhas, duas de cada lado que albergam as recentes imagens de São João de Brito e São José, à esquerda e de Santa Maria Goretti e Santa Teresinha do Menino Jesus, à direita. 

    Depois do Arco Triunfal em granito que é suportado por duas pilastras de ordem toscana, como que a ladear o mesmo, encontra-se dois retábulos de estilo barroco nacional, com grande profusão decorativa de colunas torsas, meninos, anjos, parras, cachos de uvas, pombas, Fénix e ramagens, tendo nos topos de cada altar uns meninos às cavalitas das Fénix, levando nas mãos direitas a Santa Cruz (Almeida, 2013, p. 121). O altar da direita é dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, e é possuidor de uma imagem dos séculos XIX-XX, ao passo que o da esquerda é dedicado ao Coração Imaculado de Maria e alberga uma imagem sua de feições tipicamente barrocas.

Um Pormenor do Altar do Coração Imaculado de Maria
Um Pormenor do Altar do Coração Imaculado de Maria
Um Pormenor do Altar do Sagrado Coração de Jesus
Um Pormenor do Altar do Sagrado Coração de Jesus

    Na nave da igreja, destaca-se o altar de Nossa Senhora de Fátima, implantado na outrora porta lateral sul e, mesmo em frente, a enorme peanha do monumental Nosso Senhor da Saúde, imagem de Cristo Crucificado. Ao longo de toda a nave, vão surgindo pequenas peanhas que acolhem as imagens de São Judas Tadeu, Menino Jesus, São Bento, Santo António de Lisboa e as mais antigas e importantes, datadas do século XVIII, as imagens da Senhora do Carmo e do Mártir São Sebastião.

A Parede Lateral Direita
A Parede Lateral Direita

    Ao fundo da igreja está colocado o mais antigo vestígio artístico, vindo da Idade Média (ou já do período Manuelino), a pia batismal de granito, de pé canelado e bacia decorada com círculos e cruzes dentro destes, separadas por cordas, foi-lhe acrescentado o pé com um pequeno tronco granítico sem qualquer interesse artístico (melhor não o fosse) (Almeida, 2013, p. 122).

Bibliografia Consultada: 

  • Almeida, L. G. C. (2013). Santiago de Outiz e sua Anexa São Miguel de Gemunde - Apontamentos Monográficos. Vila Nova de Famalicão: Junta de Freguesia de Outiz.
  • Mesquita, T. (2007). Memórias de Famalicão. Santa Maria da Feira: Rainho & Neves.
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