Mosteiro de Landim
O Mosteiro Agostiniano de Santa Maria de Landim
Dotado de um incrível e distinto arquivo monástico e paroquial, este milenário mosteiro canonical teve a sua fundação anterior à renovação do estudo do Direito Romano no século XII (Sá, 1981, p. 92), contudo, as suas origens não são concisas. As discrepâncias das fontes não permitem que se associe a sua fundação a uma data precisa, no entanto, acredita-se que a mesma terá ocorrido nos alvores da Baixa Idade Média.
O frade agostiniano Nicolau de Santa Maria afirmou que este mesmo mosteiro havia sido fundado em 1096, por ordem do conde galego, D. Rodrigo Forjaz de Trastâmara que, alegadamente terá vindo para o Condado Portucalense como companheiro de armas do Conde D. Henrique. No entanto, é sabido que o Conde D. Henrique aparece, pela primeira vez, no Condado, em 1096, o que torna inverosímil a afirmação de Frei Nicolau (Teles, 2009, p. 9). Outra fonte do século XIV refere, por sua vez, na parte em que introduz a genealogia dos senhores de Trastâmara, um neto daquele Conde D. Rodrigo Forjaz, como dom Gomçallo Gomçalluez, o que fundou Nandim (Teles, 2009, p. 10). Mas mesmo assim ainda não hã consensos. Estudos indicam que este mencionado indivíduo não terá sido primogénito, nem tampouco tenha deixado descendência, vivendo a maior parte da sua vida nas terras de Coimbra, onde esteve ao serviço do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques. Bom, e como não há duas sem três, apresentemos a terceira possível data de fundação deste mosteiro agostiniano, 936. Aparece mencionado numa escritura de venda de uma parcela agrícola, localizada in villa nandini inter aue et pel teritorio portucalense (Teles, 2009, p. 10). Mas esta mencionada Villa Nandini não se trata do nosso Landim, mas sim da atual Areias, freguesia do concelho de Santo Tirso, uma outra comunidade de clérigos, sedeada na antiga basílica de Santiago de Nandim, hoje S. Tiago de Areias, transformada em igreja paroquial em meados do século XI (Teles, 2009, p. 10).
Depois de se acreditar nestas três teorias mencionadas, chega-se à conclusão que o verdadeiro fundador do mosteiro terá sido D. Gonçalo Rodrigues da Palmeira, filho segundo do mencionado D. Rodrigo Forjaz de Trastâmara, que deve ter chegado ao Condado Portucalense, em busca de fortuna, por volta de 1110 (Teles, 2009, p. 10). Sabe-se que o Conde D. Henrique morreu, inesperadamente, no longínquo ano de 1112, o que permitiu que D. Gonçalo se aproxima-se do círculo do poder, chefiado por D. Teresa que o terá ordenado chefe militar.
Se havia a determinação do fidalgo galego em fazer fortuna no Condado, a sorte sorriu-lhe certamente. Em recompensa dos serviços prestados, D. Teresa fez dele Mordomo-mor da sua casa e coutou-lhe o mosteiro, como registam as Inquirições de 1258. Portanto, algures entre 1110 e 1128. D. Gonçalo Rodrigues de Palmeira tornou-se senhor de um mosteiro que, em meados do século XIII, é designado por Mosteiro de Santa Maria de Nandim, ao qual reforçou a dotação patrimonial, legando-lhe em testamento o Couto da Palmeira (Teles, 2009, p. 11).

Espiritualmente evoluindo, diz-se que possivelmente o mosteiro, foi fundado sobre um pequeno cenóbio de costumes locais pertencente à antiga corrente monástica de tradição hispânica (Teles, 2009, p. 11) e que já em 1177, através da doação do Couto de Palmeira ao mosteiro, o mesmo aparece como propriedade dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, sediados em Santa Cruz de Coimbra.
Da sua igreja primitiva, caracteristicamente românica, ainda restam vestígios, reconhecendo-se, à partida, elementos do românico tardio que sobreviveram àquela reconstrução de que a igreja foi alvo, no século XVI, ao gosto do nosso primeiro maneirismo (Teles, 2009, p. 13). Exemplos deste estilo artísticos têm, por exemplo, as arcadas cegas ou os capitéis geminados. Ao que tudo se crê, a igreja era possuidora de uma só nave, suportada por paredes retas, sensivelmente retangulares. Não terá tido transepto e acredita-se que os tetos, inicialmente, seriam de madeira, antes das intervenções do século XIII. A mencionada reforma, ergueu a atual abóbada sobre a capela, aumentou a altura da nave e edificou contrafortes exteriores para suportarem as nave e as abóbada.

No século XVI deu-se uma das principais mudanças arquitetónicas neste mesmo mosteiro e que perdura até aos dias de hoje. Assim, e depois de destruída a fachada românica, acrescentou-se uma nave colateral e erigiu-se uma torre sineira.
A nova fachada apresenta-se dividida, horizontalmente, em três distintos corpos, tal como a torre, por cornijas salientes retilínias, sendo de destacar a galilé, de três arcos, articulada com o coro alto, ao nível do segundo corpo, onde se abre uma janela retangular central ladeada por dois nichos, com as imagens de São Teotónio e Santo Agostinho. Um nicho de maiores dimensões, encimado por uma cornija horizontal, com a imagem de Nossa Senhora da Assunção, decora o corpo mais alto. (Teles, 2005, p.14).
De referir que todo este conjunto está enquadrado por pilastras adossadas, possuidoras de singelos motivos, o que contradiz com as simplificadas colunas dóricas "à romana" que sustentam o novo sobreclaustro do mosteiro. Dos séculos XVII e XVIII, destacam-se as remodelações decorativas dos interiores, de onde emergiram motivos barrocos e revestimentos a azulejos seiscentistas. Nessa mesma altura, acredita-se que também a igreja tenha sido revestida da mesma tipologia, dada a moda dos finais do século XVII e inícios do século XVIII. Um dos maiores tesouros de Landim e, consequentemente, do conselho, o órgão de tubos, foi mandado executar em 1765, da autoria de Luiz de Sousa.

No segundo ano do seu pontificado, o Papa Clemente XIV assinou, a 4 de julho de 1770, o Breve Apostólico Sacrosanctum Apostolatus Ministerium, no qual ordenava a extinção de nove mosteiros da Congregação de Santa Cruz, por se estar a assistir ao afrouxar (...) daquele bom, e exemplar modo de vida e ao cometimento de abusos, desordens e excessos por parte de alguns dos membros das suas comunidades. O Mosteiro de Santa Maria de Landim foi um dos nomeados na lista apresentada (...) Igual destino tiveram os mosteiros de Moreira, São Salvador de Grijó, Vila Boa do Bispo, São Martinho de Caramos, São Salvador de Paderne, São Simão da Junqueira, São Jorge e Santa Maria de Refoios de Lima (Teles, 2009, pp. 18-19).
Os bens do Mosteiro acabaram por ser sequestrados desde o dia 15 de setembro até ao dia 20 de dezembro do mencionado ano. Tudo isto aconteceu por ordem do Cardeal da Cunha que deu diretrizes ao Desembargador da Relação do Porto, João Tavares de Abreu, para que sequestrasse os bens monásticos e intimasse os cinco cónegos a abandonar o edifício, o que acabou por acontecer entre os dias 25 de setembro e 21 de outubro.
De referir que os monges agostinianos sediados neste supracitado complexo monástico se instalaram no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, "coração" da Ordem Agostiniana. E foi deste modo que Landim perdeu grande parte do seu património móvel que certamente tanto orgulhava o concelho.
Jóias e alfaias litúrgicas, ornamentos e roupas, móveis e diversos utensílios encontrados nas várias dependências, livros, drogas e medicamentos, cereais e vinho armazenados nos celeiros e adega, gado, propriedades rústicas (...) nada, por mais insignificante que fosse, ficou por arrolar (Teles, 2009, p. 19).
Mais tarde, a 11 de novembro de 1770, a maior parte desses bens viria a ser leiloado; as jóias landinenses, por ordem do Cardeal da Cunha, seguiram, na sua maioria, para Lisboa, permanecendo em Landim apenas algumas peças que pertenciam às Irmandades ou que eram necessárias ao serviço litúrgico (Teles, 2009, p. 20).
Em 1772, Manuel Baptista Landim, então radicado em Minas Gerais (Brasil), onde exercia o cargo de Administrador Geral dos Direitos dos Diamantes e Ouros, comprou, por trinta mil cruzados, o mosteiro, a cerca e a regalia do padroado da sua igreja, dando assim início a um novo ciclo, que se prolonga há mais de duzentos anos e em que a velha fundação monástica se transformou num espaço privado de afetos e memórias familiares (Teles, 2009, p. 20).
Refira-se que o Mosteiro de Santa Maria de Landim se ergue na parte sul do Largo da Feira, na freguesia de Landim. Na sua envolvência, encontra-se o edifício da Junta de Freguesia, a norte e, em frente à sua fachada, encontram-se o Salão Paroquial, o Centro Social e o Colégio Correia de Abreu que foi instalado na antiga hospedaria do Mosteiro. A norte, no topo do largo, erguem-se três capelas, unidas num tronco comum e alvo de grande afluência de fiéis nos dias 2 e 3 de fevereiro. Tratam-se das Capelas das Santas Chagas, cuja confraria foi fundada em 1570, do Senhor dos Passos e de São Brás. Esta última é "casa-mãe" da grande Feira das Candeias ou Feira do Gado que celebra a memória litúrgica de Nossa Senhora das Candeias e do bispo e mártir São Brás realizando-se, anualmente, nos já mencionados dias e fim-de-semana mais próximo. Acha-se por bem referir ainda que, esta abarca um busto deste bispo e mártir, possuidor de uma relíquia no seu tronco. Obra de arte do século XVIII e património móvel da paróquia de Santa Maria, este relicário é beijado e venerado pelos fiéis que, ajoelhados diante o seu altar, pedem auxílio para os males da garganta.

O interior da Igreja do Mosteiro emite a típica austeridade monástica propícia ao recolhimento e à oração. Por entre as áridas paredes, sobressaem os três retábulos, com especial
apreço pelo retábulo-mor, dedicado ao dogma da Assunção de Virgem Maria. De planta côncava, corpo único e três tramos, apresenta características estruturais típicas do designado estilo Nacional (Teles, 2009, p. 22). O corpo central do retábulo apresenta, no centro, um grande tribuna em arco, tapada por um painel a óleo que figura a Assunção da Virgem aos Céus.

Possui um trono eucarístico rematado por um baldaquino, de secção retangular, assente em quatro colunas revestidas com folhagens. Lateralmente à tribuna vislumbram-se dois tramos definidos por colunas helicoidais, revestidas por símbolos eucarísticos (Teles, 2009, pp. 22-23).
Lateralmente encontram-se duas mísulas entalhadas que albergam, à esquerda, a imagem de Santo Agostinho, pai da Ordem dos Cónegos Regrantes e, à direita, a imagem de São Teotónio, cónego agostiniano português e o primeiro santo lusitano. Destacam-se, assim, estas duas sacras imagens, que se inserem no património móvel da paróquia e do concelho que foram talhadas entre os séculos XVIII e XIX.
Especial atenção merecem igualmente o arco da entrada da capela, notável expoente do barroco português, ladeado pelos altares de Nossa Senhora do Rosário, à esquerda, e do taumaturgo Santo António, à direita (Mesquita, 2007, p. 184).
De referir que neste mencionado arco está,
lateralmente ornamentado por duas meias pilastras do lado interno que albergam
quatro nichos que abrigam as imagens de São José, Santa Rita de Cássia, São
Frutuoso e Santa Bárbara. O mesmo apresenta ainda, no seu centro, uma mísula em estilo Barroco, definida por pequenos anjos querubins e onde se venera a imagem de Santa Maria Madalena. Passando ao altar lateral esquerdo, o retábulo da Virgem
do Rosário, destacam-se os anjos que aqui e ali vão enriquecendo a obra de arte
do século XVIII que, por si só, é totalmente defendido por motivos
vegetalistas. Alberga no seu centro uma imagem da Virgem, com cerca de 144cm de
altura que, por sua vez, é ladeada, à direita, por São Joaquim e, à esquerda,
por Santa Ana.

O banco, composto por sobreposição de planos, apresenta ao centro um nicho de perfil côncavo e remate em arco de volta perfeita, que alberga a imagem de Nossa Senhora do Ó (Teles, 2009, p. 27).
Do outro lado, encontra-se o retábulo de Santo António, muito semelhante ao de Nossa Senhora do Rosário, sendo praticamente simétricos, havendo poucas diferenças que os separam. Ladeado, à direita por São João Baptista e, à esquerda, por Santo Ovídio, a imagem de Santo António merece destaque por não se tratar de um Santo António "comum" e como se está habituado a aferir. Assim, de referir que este Santo não nos aparece vestido com as típicas vestes franciscanas mas, ao invés, com as vestes agostinianas, lembrando que o Santo, antes de ingressar na Ordem de São Francisco, foi frei na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Nesse sentido, aparece representado com a típica sotaina preta, debruada por uma singela faixa dourada, roquete branco e mozeta negra, apertada sobre o peito.

Na nave central da igreja, destacam-se apenas as
peanhas que albergam as recentes imagens de Nossa Senhora de Fátima, à esquerda
e do Sagrado Coração de Jesus, à direita. Por outro lado, na nave lateral da
Igreja, destacaremos, sucintamente, os três altares dedicados a Nossa Senhora
da Assunção, Santa Luzia e Nossa Senhora das Dores. O primeiro, o da Virgem Assunta,
padroeira de Landim, é tido como uma construção do século XX e alberga no seu
centro a imagem da padroeira, datada dos finais do século XVIII. Lateralmente é
ladeada pelas recentes imagens do Abade São Bento e do Apóstolo São Judas
Tadeu. Evoluindo, encontramos o altar dedicado à Virgem e Mártir Santa Luzia.
Crê-se que este retábulo tenha sido construído nos finais do século XIX.



Possuidora de uma expressão apática, a imagem de
Santa Luzia data dos séculos XVII ou XVIII. Do seu lado esquerdo, uma mísula
com a imagem do Mártir São Sebastião e, do lado contrário, encontra-se São
Paulo. Por último, o retábulo de Nossa Senhora das Dores, talvez aquele que é
mais antigo dos três altares que se inserem na nave lateral da igreja de
Landim.
A nível estilístico, apresenta uma estrutura de tipo maneirista, com recurso a decoração de inspiração neoclássica (...) o sotobanco está definido por uma mesa/ urna, de formato retangular, a qual aquartela no seu interior, uma imagem de Cristo jacente (Teles, 2009, p. 34).
De referir ainda que a imagem da Virgem Dolorosa, datada dos inícios do século XIX, apresenta uma enorme expressividade, transmitindo sofrimento, abandono e solidão. De cabeça inclinada e espada cravada no peito, a Virgem aparece-nos representada sentada sobre breve plataforma que pretende imitar terreno um rochoso.
Bibliografia Consultada:
- Mesquita, T. (2007). Memórias de Famalicão. Santa Maria da Feira: Rainho & Neves.
- Sá, Pe. A. C. (1987). O Mosteiro de Santa Maria de Landim in Boletim Cultural 2. Vila Nova de Famalicão: Centro Gráfico de Vila Nova de Famalicão.
- Teles, S.; Pinto, L. (2009). A Igreja e Mosteiro de Santa Maria de Landim. Instituto de História
e Arte Cristãs, Museu Pio XII.