Santuário de São Gens de Cidai
o esforço das gentes ...
Centenas e centenas de pessoas têm recebido de S. Gens de Cidai graças especiais, favores extraordinários, principalmente no alívio de dores de rins e no bom resultado de operações cirúrgicas, a que se tiveram de sujeitar; e por isso têm vindo, ali, à sua Capela-Monumento de Cidai rezar e cumprir as suas promessas, de perto e de longe - Bougado, Trofa, Maia, Ribeirão, Lousado, Guidões, Alvarelhos, Póvoa de Varzim, Porto, S. João da Madeira, Coimbra, Lisboa, etc.,etc.
Sempre que tenhamos necessidade de a Ele recorrer, façamo-lo com muita fé, durante uma novena (comungando, sendo possível, em um dos dias) (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 34).

Abade Sousa Maia, por seu nome inteiriço de
Manuel Domingos de Sousa Maia, era sacerdote,
arqueólogo e publicista. Nasceu na Freguesia de
Santiago de Bougado, no então concelho de Santo Tirso e tornou-se pároco de Canidelo. De acordo com o
investigador Agostinho de Azevedo, o Abade Sousa
Maia era neto do cavaleiro Magriço, chefe dos Doze de
Inglaterra. Era detentor de um precioso museu na sua
residência, com coleções de objetos arqueológicos, de
numismática de ex-votos. Foi membro da Sociedade
Portuguesa de Antropologia e Etnografia do Porto e do
Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia
de Lisboa.

O Abade Sousa Maia, por seu heterónimo Helmano Montano, publica no jornal quinzenal O Trofense, a 6 de abril de 1930, uma notícia intitulada "S. Gens". Fundamenta que, os fundadores da vila de Cidai, vila romana, posteriormente transformada em aldeia, eram oriundos da Civitas Alvarelios, sendo estes mesmos, os primeiros moradores daquela aldeia de Bougado. Por sua vez, Helmano Montano, põe em hipótese, que estes habitantes da aldeia de Cidai, talvez fossem estes os fundadores de uma pequena ermida dedicada a São Gens, provavelmente por serem romanos ou deles descendentes, permitindo uma conservação da memória do martírio do Santo.
A tradição afirmava a visita diária à ermida, e por cada dia que passava, era deixada
uma marca que orientava o cumprimento dos próprios deveres religiosos; era uma
estaca que se espetava quotidianamente na terra e, logo que houvesse 7 balisas, iam
todos à missa à igreja de Bougado (CRUZ, 1951, p. 12).
Contudo, os factos indicavam que ali existiu a ermida de São Gens, segundo Helmano Montano, à data da publicação do artigo, era possível encontrar vestígios de telha
antiga e caliça, e não há muitos anos (da época), um idoso teria visto alguém levar a
soleira da porta. De facto, existem documentos que afirmam a existência de um ermitão,
dos fins do século XV, em Bougado. Ermitão esse, descendente dos morgados da Carriça,
que exercia o seu dever naquele lugar despovoado chamado São Gens, onde ganhou tal
fama de santidade que se julgou que fazia milagres (CRUZ, 1951, p. 13).
Após anos de abandono, a ermida foi desaparecendo. Diz-se que uma jovem pastora havia prendido um cordeiro à imagem de São Gens, como forma de cumprir uma
promessa que consistia em manter os lobos afastados do seu rebanho. O cordeiro acabou por fugir, deitando a imagem por terra. Tempos depois, a ermida recebeu a visita de uma
devota de Matosinhos que encontrou a imagem do Santo Mártir, numa posição
deprimente (CRUZ, 1951, p 14).
Vê-lo assim e condoer-se do estado de Abandono, em que S. Gens se encontrava foi, como soi dizer-se, obra dum momento. Toma S. Gens, nos braços, com carinho e resolve logo levá-lo envolto na sua própria mantilha para lugar onde seja venerado. (CRUZ, 1951, p 14).
Sabe-se que mais tarde, São Gens toma lugar numa capela de Nossa Senhora da
Nazaré, situada num monte da freguesia de Custóias, que depois de ser integrado, nessa
ermida, deu nome à mesma e ao próprio monte onde está localizado.
Após este grito do filho da Terra, Carlos Martins Macedo Campos, por ligeiro
acaso, encontrou uma das cópias do jornal acima mencionado, que teria guardado tempos
antes no cofre de sua casa, devido a conter informações sobre a terra natal do seu pai. Como chefe do Grupo 102 de escuteiros da Paróquia de S. Martinho de Bougado, em
1936, reuniu um aveludado grupo de jovens, embarcando na descoberta da ermida de São
Gens ou, do local onde teria existido essa mesma ermida. Com o documento na mão, o
grupo de escuteiros pôs-se a caminho, mas sem grande sucesso. Na aldeia de Cidai, não
era conhecida alguma ermida, apenas a história das sete estacas. Houve apenas um dos
homens mais velhos da aldeia, a quem chamavam o "Ti Manel Damásio" que disse que
no alto da serra havia umas bouças que se dominavam de "S. Gens", mas da ermida
nada sabia. (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 12). Depois de tamanha
informação, o grupo pôs-se a caminho, subindo o monte deparando-se com fragmentos
de telhão romano, que teriam dado cobertura à citada ermida. "Não encontramos a
soleira da porta e muito menos qualquer pedra que se relacionasse com a existência do
velho templo" (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, pp. 12-13).
No ano de 1948, acontece uma reunião em casa da
Dª. Blandina Dias do Couto e Carlos Martins Macedo
Campos, onde se revela o desejo de erguer um oratório ou
uma capela num sítio onde não existiam habitações.
Encarregou-se de pedir ao Rev. Padre Sebastião Cruz,
em dia de Reis, nessa mesma reunião, se caso fosse
possível deslocar a antiga imagem de São Gens, que
estaria em São Tiago de Custóias, através de uma paga
por Blandina Dias do Couto. Nesse mesmo ano, sua Rev.
Padre Sebastião Cruz, faz uma visita à casa de Carlos
Campos, e vendo o artigo presente no jornal de 6 de abril
de 1930, exclamou: "Interessante, eu desconhecia isto!" (MAIA, CRUZ, GOMES, &
CAMPOS, 1996, p.13)
Não vamos pensar no seu pedido, mas sim reconstruir a capela no mesmo lugar onde existiu a tal ermida. Sonhar alto? Talvez não! (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 13).
A 10 de outubro de 1948, é fundada a primeira comissão, ficando Carlos Campos
como tesoureiro e o então Rev. Padre Sebastião Cruz como presidente. Este último,
professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
desde cedo começou a tratar da licença necessária, junto de D. Agostinho de Jesus e
Sousa, Bispo do Porto, para a construção de uma capela-monumento, recordando a antiga
ermida. Pelo que no ano seguinte, os homens de Cidai, começaram a abrir caminhos, de
terra batida, desde a aldeia de Cidai até ao topo do monte, permitindo o empreiteiro
deslocar o material até ao topo.
Após vários peditórios, o sonho começava-se a tornar realidade e a 21 de maio de
1950, foi realizada a bênção solene da primeira pedra e no ano seguinte, aos 23 dias do
mês de setembro, a capela-monumento recebeu a bênção solene pelo Cardeal Patriarca de
Lisboa, Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, tendo a assistência o Bispo do Porto, Dom.
Agostinho de Jesus e Sousa., bem como várias autoridades civis, militares e académicas
do País. Os escuteiros da região do Porto tomaram parte activa na realização de tão
notável evento (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 14). Dona Blandina
Couto ofereceu a imagem de São Gens que ainda hoje existe na capela.
Perante todo este árduo trabalho, o monte foi recebendo luz elétrica, água, bem
como a abertura de estradas em vários sentidos, a abertura de parques de
estacionamento e ainda o desbaste de algumas rochas para permitir a existência de um
adro rodeador da capela-monumento. É importante salientar a colaboração de paróquias
vizinhas como São Martinho de Bougado, São Cristóvão do Muro, São João de Guidões,
Santa Maria de Alvarelhos, e outras além-do-Ave. Também o grupo das Madrinhas de S.
Gens, os grandes amigos do Prof. Doutor Sebastião Cruz, e devotos colaboraram com
substanciais ajudas (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 15).
Uma das grandes atrações a este santuário, é Nossa Senhora da Alegria, introduzida
depois da bênção do templo, trazendo os seus devotos, as Gentes do Mar.

A impossibilidade do Prof. Doutor Sebastião Cruz, devido a doença e cansaço, a
dinamização e conclusão do santuário fica a cargo do então Pároco de Santiago de Bougado, desde o dia 21 de setembro de 1962, Rev. Padre Armindo da Silva Gomes. Entrou no
Seminário de Ermesinde em 1937, sendo ordenado sacerdote a 1 de agosto de 1948. Este
foi responsável pela colocação da imagem de Nossa Senhora da Alegria no ano de 1993
e pelo restauro e ampliação da capela-monumento em 1996. Posteriormente, e de modo a engrandecer este belíssimo santuário, faz a encomenda de um escadório e cruzeiros
expostos ao longe do mesmo, em 1998.
Esta obra é um dos "Santos" orgulhos - e bem - de Santiago de Bougado! (...) A paróquia de Santiago de Bougado tem obrigação moral de continuar e valorizar, sempre, este local. O recinto é espaçoso; maiores as responsabilidades e dificuldades!... (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 10).
Como sempre modesto e tendo a simplicidade como modo de vida, Padre Armindo da Silva Gomes refere: Quem é grato, tem de o ser sempre! Parabéns a esta grande paróquia de Santiago de Bougado - Pobres, ricos e amigos - pela muita e valiosa generosidade! (MAIA, CRUZ, GOMES, & CAMPOS, 1996, p. 10).
O Santuário de São Gens de Cidai sofreu imensas obras de
construção, fruto de um grande esforço da Paróquia, do seu Pároco e de todos os seus
antecessores. Como referido anteriormente, o Santuário conta com parques de estacionamento,
um grande escadório contendo as respetivas cruzes da Via Sacra.

Junto à capela, no adro, existe a conhecida Casa da Montanha, servindo a paróquia para reuniões, festas, encontros, formações, entre outros. Dentro deste mesmo adro, está presente uma homenagem ao fundador de todo o Santuário, o homem letrado que tudo fez para que aquela pequena ermida perdida no tempo, não caísse no esquecimento, movendo influências, interesses e afins para a construção de um dos Santuários mais venerados na diocese do Porto. A Nossa Senhora da Alegria, venerada pela Gentes do Mar, foi colocada, posteriormente, no pico mais alto do monte, tendo sido feito como acesso, uma rampa de larga dimensão, permitindo que as procissões contornem a imagem da venerada Virgem, para um maior aprofundamento de toda a zona envolvente e da capela-monumento.
Relativamente ao interior do santuário denote-se a sua planta longitudinal e a ausência de retábulo-mor, uma vez que inclui um painel de azulejo que conta a vida de São Gens. Assim, é possuidora de um sacrário, encimado pela imagem do Santo Mártir. Este último, está ladeado por São Miguel Arcanjo e por Santo António. Há ainda a imagem de Nossa Senhora da Alegria no corpo ampliado da capela-monumento.
Bibliografia Consultada:
CRUZ, P. D. S. (1951). S. Gens de Cidai, como nasceu a ideia e como se vai realizando a obra. Braga: Livraria Cruz.
FERREIRA, C. (2004). Cadernos Culturais X - Santuário de S. Gens no Monte de Cidai. Trofa: Município da Trofa.
PINTO, R. S. (1999). Trofa - Do Sonho à Realidade. Paredes: Reviver - Editora.
MAIA, A. S., CRUZ, P. D. S., GOMES, P. A. S. & CAMPOS, C. M. M. (1996). S. Gens de Cidai. Trofa: Sólivros de Portugal.
MONTANO, E. S. Gens. O Trofense. Ribeirão. N.º 70. 06 de abril de 1930.
S. Gens de Cidai. A Voz da Trofa. 20 de setembro de 2001.